sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Ilha Grande (PI) PT e PSDB se unem em cidade piauiense que possui o pior índice de gestão fiscal do país


Ilha Grande não tem creche, banco ou hospital

Ilha Grande é uma das quatro cidades do litoral piauiense e fica na divisa com o Maranhão. O município tornou-se conhecido nacionalmente por apresentar o pior índice de gestão fiscal do país, segundo a Firjan (Federação da Indústria do Rio de Janeiro). Na cidade, a disputa eleitoral é acirrada e envolve quatro candidatos. A mais interessante das coligações une o PT, com o candidato a prefeito, e o PSDB, que indicou o vice.

No extremo norte do Piauí, Ilha Grande (a 340 km de Teresina) é um município que tinha tudo para dar certo. Dona de uma paisagem exuberante, com rios e mar se entrelaçando no famoso Delta do Parnaíba, e com o sucesso nacional das artesãs, a cidade fugiu do destino que poderia ter e se tornou um exemplo raro de problemas e escassez.

Em março de 2012, o município, com 9.000 habitantes, foi considerada a pior em gestão fiscal do país, segundo o índice Firjan (Federação da Indústria do Rio de Janeiro). Isso quer dizer que, segundo o levantamento, a cidade arrecada pouco e ainda gasta mal o que tem.

O UOL visitou Ilha Grande dentro do projeto UOL pelo Brasil --série de reportagens multimídia que percorre municípios em todos os Estados da federação durante a campanha eleitoral.

Na cidade, não há creche, hospital, agências bancárias ou dos Correios. Todos os serviços são encontrados apenas na vizinha Parnaíba, a 9 km da cidade, de quem os ilhagrandenses se emanciparam em 1994.
Ilha Grande não tem nada. Está faltando tudo aqui

Cintia Silva da Costa, comerciante

Para a população, a emancipação de Parnaíba iria ajudar a pequena ilha a se tornar uma referência turística no Piauí, mas tudo não passou de um sonho. “Aqui não tem sequer um hotel para o turista ficar. Um dia desses uma mulher parou o carro aqui e perguntou sobre um restaurante, e não tinha nenhum a apresentar”, disse a artesã Maria Socorro, presidente da associação de rendeiras da cidade.

Sem estrutura, o município se tornou apenas passagem de turistas que querem pegar uma embarcação com destino ao Delta do Parnaíba. A cidade, que fica no extremo noroeste do Estado, vive basicamente dos empregos públicos, do pequeno comércio e da pesca. A estrutura na cidade é deficiente em todos os aspectos.

“Está faltando uma creche para as crianças. Os pais trabalham e precisam de uma creche, mas ela ainda não existe. As escolas ainda não têm retroprojetor. Elas têm computadores, mas estão em salas fechadas. Temos problemas”, reconhece Francisco Ferreira Augusto da Costa, presidente do Sindicato dos Servidores em Educação de Ilha Grande, que é aliado da gestão municipal.

Os moradores não escondem a insatisfação com a falta de oportunidade e criticam a gestão do município. “Nossa cidade não está muito bem. A prefeita está muito acomodada, não está fazendo como uma prefeita. As ruas estão cheia de buraco”, disse a professora aposentada Maria José Costa.
Prefeita culpa herança e diz que cidade está melhor

A prefeita Joana D'Arc (PSDB) foi eleita pela primeira vez em 2008 e poderia tentar a reeleição, mas desistiu da candidatura. O comentário em Ilha Grande é que ela abdicou da disputa ciente da rejeição causada pelos problemas na cidade. Mas ela alega que a desilusão à frente do cargo foi o principal motivo para a desistência.

“Nós somos um município de pequeno porte que tem necessidades de município grande. A gente entrou cheio de sonhos, com um plano de governo construído pela sociedade, e você vê que não era aquilo que você esperava. Eu enfrentei a escassez de recursos, a crise financeira mundial e, logo em seguida, enfrentei as enchentes de 2009, em que sofremos muito”, conta a prefeita para justificar a saída da disputa.

Segundo a prefeita, os problemas da cidade ocorrem não só pela falta de recursos, mas pela “herança”, como a folha de pagamento que compromete quase 75% da receita municipal. “Já encontramos o município nessa situação, sem contar as isenções fiscais que foram dadas, que deixaram o município sem receita alguma. Por isso esse resultado de pior gestão fiscal do Brasil. Mas já fomos à Câmara [de Vereadores], mostramos a situação e derrubamos essa medida [das isenções]. Hoje o município arrecada pouco, mas arrecada. A gente conseguiu sanar essas dificuldades. Vou deixar um município governável e adimplente”, afirma a prefeita.

Mesmo tendo quatro anos para solucionar os problemas, os gestores do município têm uma explicação “emotiva” para justificar a não-demissão do de servidores. “Preferimos não demitir ninguém e nos arriscar a responder processo, porque aqui a cidade é pobre e não é legal deixar um pai de família desempregado. Aqui todo mundo sabe onde a gente mora, temos as portas abertas. É uma situação complicada”, diz o secretário de Administração, Finanças e Obras da cidade e marido da prefeita, Henrique Sertão.


PT e PSDB juntos para evitar um “mal pior”

PT e PSDB integram a mesma coligação; veja mais imagens clicando na foto

Apesar de ser uma cidade pequena e pobre, a disputa eleitoral em Ilha Grande é intensa. Quatro candidatos disputam a prefeitura da cidade. Uma das chapas chama a atenção por reunir PT e PSDB.
Magno Brito (PT) é o candidato a prefeito e tem como vice o Professor Ismael (PSDB). Os dois afirmam que a união de adversários históricos ocorreu para evitar um “mal pior” à cidade. “Essa coligação existe porque precisamos evitar que pessoas de fora de Ilha Grande e que foram contra a emancipação do município sejam eleitas. É uma situação pontual, daqui de Ilha Grande, e por isso o diretório estadual acatou nosso pedido”, conta o candidato a prefeito, citando que os dois principais adversários na disputa pela vaga de prefeito de Ilha Grande são de Parnaíba, vizinha ao município.

Para o candidato, seu histórico político lembra o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por três vezes ele tentou ser prefeito da cidade, sem sucesso – 1996, 2000 e 2008. Em 2004, foi eleito vice-prefeito. “Agora nós vamos vencer, estamos com mais chances. Estamos visitando as pessoas para explicar o porquê da nossa união, que é para que a cidade continue na mão dos ilhagrandenses. Temos várias propostas para o município crescer, atrair turistas, e vamos apresentar ao eleitor até outubro.”
Fonte/Uol

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